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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Um resumo da minha Semana Farroupilha 2011

Peço desculpas aos amigos que me cobram a falta de postagens nesse espaço... mas acho que vale o registro quando temos algo sincero e novo para colocarmos (desculpas de quem não tem tempo organizado para isso!), portanto, se estou aqui novamente é porque algum pensamento importante me cativou. Na minha Semana Farroupilha (que pode ser acompanhada pelo blog ) tive experiências intensas que me levaram a escrever uma poesia que, pela semântica da palavra, criou-se por si só, praticamente. Pois quero compartilhá-la com os meus amigos...


CONTENDA DAS MUSTARDAS

1- Cuê pucha! Que o Divino nos guarde!
O coronel deu escuta ao alarde daquela feroz milicada
Que se sentiu vingada da quedança lá na Patrulha
Num lampejo de fagulha a gravata tava atada.

2- Era vinte e dois de abril de mil novecentos e trinta e seis
pois ouçam vanceis o que o coronel não me ouviu
“o ‘home’ já sentiu o peso dessa carga”
Levamos o tal pras guarda que o general nosso pediu.

3- Pois conto melhor o causo do qual me atormento
Não sei se rio ou lamento pelo sangue do Pinto Bandeira
Que se atirou na asneira de caçar os Farroupilhas
E viu de contra a pilha das guardas mostardeiras.

4- O fato é que o presidente Braga
Já estava em outras plagas que não as da Capital
Quando ouviu que o general adentraria o Campo da Várzea
Tão ligeiro quão feito a ázima, se bandeou pro litoral.

5- E buscou sua guarida no forte de Rio Grande
E com urro de “se mande!” determinou Domingos Chaves
“Nas Mustardas tu caves sete palmos a Onofre Pires”
“Nos farroupilhas mires a força da tua clave”.

6- Antônio Braga sabia que Onofre o farejava
Com olho ligeiro mirava encontrar uma solução
De quedar Pires no chão, cachorro de Bento Gonçalves
“Vá pro Mboy Orú, caro Chaves, castrar aquele cão.”

7- E assim se foi Domingos levando sua tenência
Mas também a independência soava-lhe nas ventas
Não suportava mais remendas faltas imperialistas
E contra os legalistas travaria batalhas sangrentas.

8- Juntou-se a Onofre Pires para defender sua causa
Construiu seu fortim-casa nas Guardas das Mustardas
A seus buenaços deu fardas como homens da guarnição
Que dali não tardariam a armar as emboscadas.

9- Que chegaria Pinto Bandeira, contou-lhe a Onofre Pires
Viria junto o Juca Ourives, muy guapos pelejadores
Não se atazanem senhores, Mustardas é trincheira
Que, libertária, planeia vil recebida dos contentores.

10- A duna grande se abria da Costa de Cima à laguna
O céu numa tez lubuna matizava as areias
De forma que veias abertas tingiam colorados com’ros
Formando vários escombros para rapina ceia.

11- Não houve grito, nem estampido,
O inimigo não era temido porque a trincheira abagualada
Junto a laguna alinhava Pinto Bandeira e os seus
E como castigo de Deus, Onofre e Domingos lhes guasqueavam.

12- Vendo a “cosa mal-fadada” pro lado dos lenços brancos
Não ficou sentado em banco e pras águas foi Juca Ourives
Vendo Onofre Pires e Domingos Gonsalves Chaves
Exercitando suas claves, abrindo o hades aos infelizes.

13- Juca Ourives saiu a nado, atrás dele foram os farrapos
Como se caça gato-do-mato, ficaram a sua espreita
Onde a lagoa se endireita se atiraram sobre o quera
Que nem forças tivera pra sai da botada perfeita.

14- O levaram a cabresto, como fosse um animal
Pelo regato bagual, a duna grande ganhavam
Ali onde se engalfinharam durante algumas horas
Uma vermelhidão que o branco cora, a rusga se abrandara.

15- Ata a gravata coronel! gritavam os farrapos a um só coro…
Pra curar o desaforo do ocorrido em Santo Antônio
Pinto Bandeira choronho clamava por sua vida
Sua consorte querida e seus oito filhos tristonhos.

16- Cuê pucha! Coronel… não se dê a desventura!
Pensava eu na agrura daquele importante momento.
Os farrapos me vão aos tentos se lhe aconselho bem,
Minha consciência também, se mal faço aconselhamento.

17- Nos calamos e ouço o choro do infeliz Francisco...
O Juca também sem cristo, pra se fazer por onde
Tava como quem se esconde dentro de si mesmo
Sentindo em si o peso do farrapo grilhão na fronte.

18- Os lamentos dos oficiais De El Rei não enterneceram o coronel
Que a sentença, como sovéu, pealou seu infortúnio, certeiro,
“Não seja covarde” forasteiro, esbravejou coronel Onofre
A morte todo mundo sofre, “pois morra como um bom brasileiro.”

19- Cuê fresca! São Pedro não viu! Antes milonga cena...
Sem dó, nenhuma pena, Ourives e seus caramurus,
Viventes do Mboy Orú ouviram um grito surdo
Que até hoje aturdo no choro de qualquer anu.

20- A adaga do coronel matava a sede no pescoço
Daquele infeliz moço que El Rei bem se servia
Até aquele dia que Mustardas fez guarida
Nem quero-quero alarida, nem a cobra cruzera pia.

21- Mas chê! Coronel! Por que tamanho feito?
Se essas areias são leito pra tanta carnificina,
Vi então que a sina de qualquer homem farrapo
Era morrer tão guapo que até a morte se domina.

22- Mustardas, libertária trincheira, que a tantos nos abrigou
Se algum sonho se escapou das noites do General Bento
Um deles eu lamento, pois não ganhou serventia
A guerra se ganharia se em ti fosse o farrapo aquerenciamento.

23- Tuas areias brancas ficaram como chão brazino
Teu vento teatino ainda sopra as vozes choradeiras
Tuas maternais trincheiras abraçavam a liberdade
Que só veio na verdade, longe das plagas mostardeiras.

Esquecidas estão as memórias dos saberes de teus filhos.

Essa poesia nasceu em 21/09 e quero homenagear a todos os palestrantes que me subsidiaram com suas informações e comentários a respeito da história do torrão mostardeiro.
Um abraço a todos.

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